A mansão Torrance, iluminada apenas pelas luzes pálidas que dançavam nas paredes de pedra fria, parecia um labirinto de segredos e mistérios. Angelina, com seus 8 anos, sentia-se uma intrusa naquele mundo. Mesmo que sua mãe a tivesse trazido até ali, algo a fazia sentir que ela não deveria estar naquele lugar. Mas, forçada pela necessidade dos negócios entre as famílias, ela foi arrastada, ainda que a contra gosto. Vestida em seu delicado vestido rosa, os laços em seu cabelo contrastavam com a atmosfera pesada da casa.

A festa que acontecia na grande sala não era para crianças, isso era óbvio. Sorrisos artificiais e conversas falsas preenchiam o ar, enquanto adultos negociavam à sombra de interesses obscuros. Angelina, ao lado de sua mãe, Kimberly, sentia-se perdida no meio daquelas pessoas. Ainda assim, havia uma curiosidade crescente nela, especialmente em relação ao filho mais velho dos Torrance. Damon. Ele era tão enigmático quanto a própria mansão. Ela sempre o via de longe, nas raras festas em que se cruzavam, mas nunca trocara uma palavra com ele.

Quando Kimberly a deixou sentada em um sofá de couro na sala de estar, entregando-lhe um livro de patinação no gelo, Angelina mal conseguia se concentrar. Suas mãos folheavam as páginas, mas sua mente estava em outro lugar, vagando pelos corredores escuros da casa, tentando decifrar o que fazia aquela família ser tão... diferente. Tão temida.

Então, sem aviso, a porta da sala se abriu com um rangido prolongado. Angelina levantou os olhos e encontrou Damon parado ali, sua figura recortada pela luz fraca do corredor. Os cabelos negros caíam sobre seus olhos, e a expressão em seu rosto era indecifrável. Havia algo nos olhos dele, uma intensidade fria que Angelina não conseguia compreender, mas que a atraía.

Ela sabia que deveria falar algo. Não queria que o silêncio se estendesse como um abismo entre eles.

— Oi — sussurrou, mais para si mesma do que para ele, sentindo um rubor subir pelo rosto. Era estranho estar perto dele, como se estivesse diante de algo que não entendia completamente.

Damon a encarou por um momento antes de emitir um leve som de cumprimento, quase inaudível. Ele entrou na sala sem pressa, como se estivesse observando cada detalhe, absorvendo tudo ao seu redor sem nunca realmente se conectar.

Angelina mordeu o lábio, tentando pensar em algo para dizer, qualquer coisa que quebrasse o gelo que parecia se formar entre eles. Seu coração batia rápido, mas ela não queria que ele percebesse sua insegurança.

— Parece que a neve vai chegar em breve — comentou, a voz saindo trêmula.

Damon deu de ombros, como se o comentário fosse irrelevante.

— Talvez. — Sua voz era monótona, carregada de uma indiferença que Angelina achava perturbadora.

Ela podia sentir que não seria fácil falar com ele, mas algo dentro dela a empurrava a continuar tentando. Havia uma curiosidade profunda em relação a ele, algo mais do que simples interesse. Ela queria entendê-lo, descobrir o que havia por trás daquela barreira que ele erguia.

— Você já tentou patinar no gelo? — perguntou, seu entusiasmo começando a despontar, na esperança de que aquele assunto pudesse despertar algum interesse nele.

Damon olhou para ela de canto, e por um momento, pareceu refletir sobre a pergunta.

— Não. Nunca tentei.

Angelina abriu um sorriso involuntário, sua excitação crescendo. Ela adorava patinar, e falar sobre isso sempre a fazia se sentir mais confiante.

— É como voar — disse, sua voz ganhando vida. — Quando estou no gelo, sinto que estou flutuando, como se o mundo todo ficasse em silêncio, e só restasse eu e o vento. É libertador, sabe?

Dessa vez, Damon a encarou de verdade. Seus olhos escuros se fixaram nos dela, como se tentasse absorver o significado de suas palavras. Ele parecia intrigado, ainda que mantivesse aquela máscara de indiferença.

— Voar? — Sua voz tinha uma nota de dúvida, mas também de curiosidade, o que foi o suficiente para fazer Angelina acreditar que estava começando a penetrar sua casca.