A noite estava envolta em um silêncio quase sagrado, a mansão Torrance iluminada apenas por luzes suaves que mal penetravam a escuridão do jardim. Sentado em um banco, eu observava a neve caindo, como se cada floco fosse um pequeno mundo que se desfazia ao tocar o chão. O barulho da festa dentro da casa era distante, um lembrete do mundo agitado que eu não queria fazer parte. Às vezes, a escuridão parecia tão densa, tão pesada, mas naquelas noites de inverno, havia um conforto na solidão.
Quando vi Angelina chegando, de mãos dadas com sua mãe, meu coração deu um salto inesperado. Ela parecia tão pequena e delicada, e mesmo à distância, o brilho em seus olhos me atraía como um farol em meio à escuridão que eu conhecia. Assim que nossos olhares se cruzaram, um sorriso se formou em seu rosto, e, por um momento, tudo ao nosso redor desapareceu. A tensão no meu peito se aliviou um pouco, como se sua presença pudesse iluminar até mesmo os recantos mais sombrios da minha vida.
Angelina se desvinculou da mãe e se aproximou, sua expressão entre o nervosismo e a alegria. Eu a observei enquanto ela procurava um lugar para se sentar ao meu lado, e a visão dela me fez esquecer a festança barulhenta. Era como se o mundo exterior não tivesse mais importância, e tudo o que eu queria era ficar ali, em sua companhia.
— Oi, Damon! — disse ela, a voz suave como a neve que caía ao nosso redor.
— Oi, Angelina — respondi, tentando manter a calma, mesmo que meu coração estivesse acelerado.
Ela olhou para a neve e depois para mim, um brilho de curiosidade em seus olhos. — Você sabe fazer bonecos de neve?
Eu hesitei. O impulso inicial foi negar, mas a verdade era que eu gostava. — Sim, eu sei — disse. — Eu gosto de fazer bonecos de neve. — ele deu um sorriso tímido.
Angelina sorriu, e a forma como a luz da lua refletia em seu rosto era quase mágica. — Podemos fazer um castelo de neve! — exclamou, gesticulando com as mãos. O entusiasmo dela era contagiante.
Enquanto ela falava, eu a ouvia atentamente, e o frio da noite parecia ficar um pouco mais ameno. Conversar com ela me fazia sentir como se estivéssemos em um pequeno mundo, longe dos problemas e das expectativas que nos cercavam. Havia algo especial na conexão que estávamos formando, algo que me fazia acreditar que, apesar da escuridão que me envolvia, poderia haver momentos de luz.
— A neve é incrível, não é? — Angelina continuou, sua voz cheia de vida. — Quando eu faço bonecos de neve, me sinto como se estivesse criando algo que pode durar para sempre.
Eu a observei, fascinado. Ela realmente era como um farol no meio da minha escuridão, iluminando lugares que eu nem sabia que estavam tão sombrios. Era reconfortante saber que, mesmo em meio a todas as complicações de nossas vidas, havia espaço para a simplicidade e a alegria.
— Sim, é — concordei, uma sensação de calor se espalhando em meu peito. Por um breve momento, eu me deixei levar pela ideia de que poderíamos criar algo juntos, uma memória que permaneceria, como os blocos de neve que ela sonhava em construir.
O resto da noite poderia esperar. Naquele momento, tudo o que importava era a presença dela, a magia da neve e a possibilidade de algo mais que estava por vir.